sábado, 14 de abril de 2012

Ambas as questões...




Duas questões norteiam minha prática pedagógica. Ambas as questões tem muito a ver comigo. A primeira pergunta,  retrata fatos. Já a segunda, me submete à sonhos. Sem elas meu trabalho não faria o menor sentido, por isso recorro à elas a cada vez que me sento diante o computador e faço uma pesquisa, quando abro um livro e busco um conteúdo, quando leio um artigo, quando vejo uma imagem ou ouço uma música.

Bem, a primeira questão, o ponteiro certo dessa minha bússola profissional quer saber, não de você que lê esse texto, mas quer saber de mim, quer saber o que eu, Julia Campanucci, gostaria de ter aprendido na escola? O que eu, gostaria que a escola tivesse me dito, me informado, me ensinado? Essas perguntas me submetem a uma lembrança, ora feliz, ora infeliz. Traz a tona marcos de grande convívio, de boas amizades e cicatrizes geradas por dúvidas e sobretudo pela ilusão que a escola alimenta em cada aluno, mas que está longe de sustentá-la. 

Quisera eu, ter aprendido mais sobre a vida, sobre as conquistas e sobretudo sobre as perdas. Quisera eu que qualquer professor, afinal, tantos eu tive, tivesse algum deles me dito que era feliz e o porque o era, quisera eu que ele me cantasse a sua cantiga de roda preferida, que ele me contasse seus medos, suas dúvidas seus fracassos, ou ao menos me dissesse que isso era coisa da vida... Ele podia ter me dito que o A da média final, só tem valor ali, naquela caderneta mas que do lado de lá do muro da escola, ele não tem tanto valor, que do lado de lá ninguém quer saber... quisera eu, ter ouvido música no meu tempo de escola, quisera eu ter tomado um lanche especial, feito um churrasco com aqueles amigos que estiveram comigo tanto tempo e que hoje já não sei mais, e eles não sabem de mim, quisera eu, ter ouvido histórias reais, os contos de fadas de príncipes e princesas que transformam feras em belas todos os dias. Que pena! Ninguém me ensinou... Não me ensinaram que há uma química muito maior, a química do amor e que as vezes alguns elementos simplesmente não combinam e precisam ser dispensados e como já cantou meu grande mestre Chico Buarque: "Me diz, me responde por favor, pra onde vai o meu amor quando o amor acaba? Me diz como é que termina um grande amor? Me diz daquele amor! Será que adianta tomar uma aspirina ou bate na quina aquela dor? Me diz, me diz daquela dor! Me responde por favor..." Não precisavam ter respondido, eu não sei a resposta de tanta coisa nessa vida, mas poderiam ter questionado comigo, poderiam ter duvidado comigo... não o fizeram! Que pena!!!

Não me falaram de solidão, de depressão, não me prepararam pra esse futuro e o tanto que diziam que era preciso estar na escola para ser bem sucedido no futuro, para ser alguém na vida, pra ser um bom profissional... E eu acreditei. É claro que sou grata pelo meu estudo, pelos professores, pelos meus pais que tanto me cobraram e fizeram e doaram o melhor de si, fizeram aquilo que sabiam e podiam fazer por mim... Mas eu confesso, que a escola foi pra mim só a pontinha do iceberg. A grande geleira, o que há de melhor em mim, foi construído depois _ a fortaleza e a fragilidade que sou, advém da vida e da forma como eu lido com ela diariamente, sem caderno, nota ou anotação, sem manual de instrução.

A Segunda questão me remete a um sonho, um pode ou não ser, ela quer saber de mim, outra vez, mas agora quer saber se caso eu tivesse um filho cursando a educação infantil, o que eu como mãe gostaria que a professora ensinasse ao meu filho? Que aliada eu teria na complementação educacional do meu filho? 

É engraçado, pois justamente a pergunta do 'sonho' agarra meus pés e me impede de voar, me faz ficar em terra firme e cobra de mim tanta coisa que eu já nem sei, se sou capaz de ensinar... 

Mas eu sei que a gangorra, quando pesa demais de um lado só, precisa de um peso maior do lado de lá, porque a brincadeira é boa demais e não pode parar... 

Então eu me permito ousar e levo pra minha sala de aula, para meus garotos, minhas princesinhas, para os meus guerreiros de 4 e 5 anos verdades de vida, não da vida de outros, mas as verdades que norteiam a nossa vida... de vez em sempre eu pergunto à eles o que eles acham da escola? se gostam? o que acham de mim? como se sentem quando o relógio, hoje, os celulares (eles já me ensinaram que não são mais relógios que despertam e sim os celulares que tocam a música preferida ora do papai, ora da mamãe) os despertam para mais um dia de aula? 

E até hoje eu nunca recebi uma resposta negativa, e aí eu faço aquela cara de feliz e explico porque me sinto assim, conto pra eles que até hoje eu vou para a escola, que a vida escolar não precisa ter fim... aí falamos um pouco sobre o porque é bom ir à escola, enfatizamos o que há de bom na escola e por aí vai... 

Eu gosto de contar histórias de gente, eu conto biografias para meus alunos, eu conto histórias de três porquinhos reais aos meus alunos, de gente que construiu um sonho e caiu, de gente que tentou, do vento que soprou, mas que nunca, nunca desistiu!

Eu canto música aos meus alunos, eu canto samba, eu canto inglês sem saber. E eles cantam comigo, muitas vezes sem entender e a gente ri, a gente gargalha pra valer

E eu tenho pena, pena de tantas mães que não estão ali para ver...

As vezes a gente chora porque a vida machuca, esfola.

Mas todos os dias a gente é feliz, não porque alguém quer, mas porque um dia eu quis!

Julia Campanucci



  



Um comentário:

Magda Moreira disse...

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